quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Manto de Sombras

  "A beleza da flor do lótus" - disse Tagora - "excede todos os elementos da flor". Assim sucede com um livro. A sua beleza rosicler também se constitui muito para além do conjunto das palavras e das laudas que o compõem. É nela (na beleza) que o leitor se compraz na busca de melhor aprender os sentidos, na ascese da descoberta das inavistadas mas pressentidas sinuosidades interiores. É assim que vos apresento: um alto miradouro donde é possível entrever mais além, na descoberta da fantástica subjectividade do sujeito humano; em si, no seu plano relacional; no seu alor para conformar os supra e inframundos que nos rodeiam.
Mas também habitando reinos de névoas que o tempo e as vicissitudes do existir incessantemente constroem. Neles, nem o amor redime ou salva. Na doença que implica várias mortes (a intermitente, a da memória física), tudo é redimido, como se finaliza no romance. "Tudo vai ao fim." O escuro de breu fecha-se. Só o narrador, entre novos mantos de sombras, ainda se interroga debatendo-se amarguradamente, entre o finito que revela, na busca impossível da compreensão.
... Resta-nos agora, como em Delfos, purificar-nos na fonte Castália, subir o trilho sinuosos e íngreme da Via Sagrada, percorrer os tesouros que ladeiam o caminho até entrarmos no templo sagrado do "Manto de Sombras" onde, como outrora, entre e eflúvios sagrados, como Apolo, o autor, na sua interrogação ascendente, diz ao Mundo


                                                                                  João Lobo
                                                             *(Curto enxerto da Apresentação do Romance
                                                                                                                                        Manto de Sombras
                                                                                                                                        Feita do Livro de Braga)
                                                    


    Ao colocar o projecto do lado dos fragilizados, dos humilhados e dos incompreendidos, o autor inscreve-se na linha do classicismo e da tradição literária ocidental, num quase revivalismo de sentido humano e humanitário, levando os protagonistas de "Manto de Sombras" a corporizarem valores de natureza moral, como o sofrimento, a piedade e a misericórdia, de forma que julgávamos banida da literatura pós-moderna.
Partindo do pressuposto que o futuro da humanidade se jogará no campo da solidariedade, Álvaro de Oliveira, à revelia de modismos experimentalistas e passageiros, arranca uma história comovente sobre um drama bem real do nosso tempo (a perda brutal de um ente querido) e coloca em campo um mensageiro da esperança, para conforto de uma vítima castigada pela crueldade e ignorância do mundo contemporâneo.
Desenvolve, pois, o autor, em toada muitas vezes poetizante (o que é sempre de louvar) um corajoso pietismo dostoievskiano, em contraciclo com a desagregação moral da sociedade, a qual lhe merece, em comentários assertivos e impiedosos, reprovações e denúncias dos múltiplos e variados anti-humanistas que triunfam na cidade e, em primeiro lugar, o que é levado a cabo pela superstição castradora e obscurantista.

                                                                 Fernando Pinheiro

                                                                                                                                                                                               


2 comentários:

  1. BOA NOITE!! O Sr. É FILHO DE AMADEU DE OLIVEIRA CARDOSO?

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    1. Não, não sou. O nome do meu pai é, José Pereira de Oliveira

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