segunda-feira, 6 de novembro de 2017


A meu ver, seguiu um modelo de análise impressionista, profundamente atento e rendido ao que cada autor lhe desperta ou aviva.
Além disso, tem também um olhar meticuloso sobre a forma como cada um escolhe e seleciona as palavras que verte na construção dos sentidos expressos e nomeia-as com ternura dedicada, atenta e reveladora dos sentidos peculiares que nelas bebeu.
Álvaro revela-se um leitor atentíssimo, um verdadeiro crítico na análise das obras selecionadas, o que pressupõe ser um estudioso tendo para isso obrigatoriamente subjacente, muitas outras leituras da arte de saber o que e como deve ser feito, quando se deseja ser crítico isento e fiel do que nos atrevemos a ler, a analisar e a partilhar.
Álvaro, neste seu outro olhar sobre a escrita dos outros, sabe ler e sentir, como afirma, “ os ritmos musicais, enigmas e pensamentos de cada poema” nos gestos, nas palavras, no olhar ou mesmo na atitude que cada um lhe revela.
Assim adverte-nos que a literatura e nomeadamente a poesia não quer pressa nem ânsia de escrita, exigindo meditação, reflexão e cuidada atenção. É assim que Álvaro a lê e analisa, buscando e mostrando o que de singular encontra nos autores visitados.
Sentimos a sua especial atenção e prazer no lirismo que atravessa a maioria dos poemas, nos elementos da natureza cantados, na escrita como forma de liberdade e expressão de sentimentos, condimentados pela musicalidade, harmonia e ritmo que os atravessa.
Álvaro encanta-se e nomeia a forma peculiar como cada um dos diferentes sujeitos poéticos exprimem uma pluralidade de sentimentos: amor, liberdade, insubmissão, harmonia, plenitude, interioridade, saudade, espanto, beleza, paz, igualdade ou injustiça.
Em todos anota o cuidado e o labor com que a palavra é vertida na página em branco a quem a confiam, dando corpo á afirmação de que a arte poética é uma tarefa de amor, amor de exigência permanente e que só se alcança com meditação, reflexão e atenção apuradas para alcançar a expressão perfeita do que se sente e deseja revelar, porque a escrita não é obra de pura inspiração mas de sistemático e rigoroso trabalho suado para se obter o condimento certos na medida exata…

Na leitura dos romances e dos contos, Álvaro foca-se e enfatiza o modo como cada autor veste a palavra para uma função comunicativa que nos faz reviver modos de vida de um passado recente, encantatoriamente descritos e narrados, de forma viva e, frequentemente, oralizante, onde os lugares, as cenas e a construção dos personagens ficcionados nos parecem tão reais e o transportam para um tempo de memória, marcado pela saudade, assentando na beleza de uma literatura rural esmeradamente trabalhada com enorme riqueza e diversidade vocabular, provocando no leitor. excitação e emotividade.

Gracinda Castanheira


Excerto do Texto de Apresentação