quarta-feira, 21 de dezembro de 2016

*Efetivamente, parece admitir-se que existe um enriquecimento das manifestações artísticas sempre que se estabelecem aproximações e diálogos entre as diversas artes, fazendo-as coincidir no apelo ao sensorial, na expressão de sentimentos, ainda que mantendo a divergência nos suportes artísticos utilizados e nas matérias a trabalhar – a palavra, a pintura, o barro, a música... No caso da poesia e da pintura, digamos que a distância entre elas não será tão grande como à vista desarmada possa parecer, dado que ambas são artes da imagem e, portanto, artes irmãs por excelência. O cotejo entre literatura e pintura não é novo. Proposições entre estas duas artes são esboçadas desde a Antiguidade. Observe-se por exemplo o simile -Ut pictur e poesis( como a pintura é a poesia),expressão latina usada por Horácio na sua Arte Poética, (c 20 a.C.).Também Plutarco menciona esta afinidade ao atribuir ao poeta Simónides de Ceos o dito, segundo o qual - A pintura é poesia silenciosa, a poesia é pintura que fala.
Mas interessa-nos por agora salvaguardar as impressões do visível e do dizível que a obra que temos em mãos pode imprimir no espírito do leitor/observador.

                                                                       Lídia Borges

*Pequeno extracto do prefácio ao livro INQUIETAÇÃO NO OLHAR