quarta-feira, 9 de novembro de 2011




Se ontem disse que os meus livros eram os meus pecados de quase nada; hoje sinto que os meus livros são os meus pedaços de quase tudo.


                                  Álvaro de Oliveira





"Só uma alma poética como a de Álvaro de Oliveira poderá dizer que «Só o silêncio, noite fora, me permite trabalhar sem incorrer naquela distracção que às vezes me perturba o raciocínio», preferindo «atravessar a noite à espera de qualquer coisa… Talvez uma frase, um verso, um poema com que possa expressar uma ideia de luz amarela que ilumina esta mesa, a vontade sem vontade, um rio seco, uma árvore sem ramos, sem folhas…». Felizmente que, para nós, Álvaro de Oliveira é daqueles escritores que não se cala, «escrevo até ao último escoar dos dias.» Mais que não seja, em homenagem aos homens e mulheres que morreram pela liberdade de expressão e pensamento, repetidamente presentes em conjunturas similares: «Portanto, fechados nesta redoma e tangidos por leis laborais que nos remetem para a penúria do recibo verde e outras precariedades, sem poder sequer dar um pio, depressa nos encontramos manietados sobre nós próprios, gerindo conflitos e desconcertos e, espantados, a atirar um olhar patético para famigerados prumos contabilísticos e demais indicadores que dão nota pesada sobre a inacreditável soma de 3 milhões de portugueses que se viram forçados, como noutro tempo assim aconteceu, a abandonar o seu país e procurar, lá fora, um novo rumo para dar à vida».
Falar de «Murmúrio Íntimo», o que nos levará ao atrevimento de o conjugar no plural, tendo em conta a harmonia do todo na partilha do olhar poético, observador – sim, um bom escritor tem que ser, forçosamente, um bom observador –, aquele olhar poético «ligado às origens e às causas, atravessar as sombras que passam rente aos gestos que nos falam da intimidade dos frutos» e dos outros, aqueles em que muitas vezes «os guardas do poder» espancam violentamente os trabalhadores e os melhores filhos do povo do nosso país, levando-o e/ou levando-nos à revolta, com aquele «olhar íntimo» dos rostos que ainda nos acompanham, quase como um «menino perdido na noite, embrulhado no calor das palavras», esquecido de si, deixando-se seduzir pelo silêncio a ouvir uma melodia de infância." 

                                                                                                            Porfírio da Silva
                                                   (Pequeno enxerto da apresentação do livro)

Manto de Sombras

  "A beleza da flor do lótus" - disse Tagora - "excede todos os elementos da flor". Assim sucede com um livro. A sua beleza rosicler também se constitui muito para além do conjunto das palavras e das laudas que o compõem. É nela (na beleza) que o leitor se compraz na busca de melhor aprender os sentidos, na ascese da descoberta das inavistadas mas pressentidas sinuosidades interiores. É assim que vos apresento: um alto miradouro donde é possível entrever mais além, na descoberta da fantástica subjectividade do sujeito humano; em si, no seu plano relacional; no seu alor para conformar os supra e inframundos que nos rodeiam.
Mas também habitando reinos de névoas que o tempo e as vicissitudes do existir incessantemente constroem. Neles, nem o amor redime ou salva. Na doença que implica várias mortes (a intermitente, a da memória física), tudo é redimido, como se finaliza no romance. "Tudo vai ao fim." O escuro de breu fecha-se. Só o narrador, entre novos mantos de sombras, ainda se interroga debatendo-se amarguradamente, entre o finito que revela, na busca impossível da compreensão.
... Resta-nos agora, como em Delfos, purificar-nos na fonte Castália, subir o trilho sinuosos e íngreme da Via Sagrada, percorrer os tesouros que ladeiam o caminho até entrarmos no templo sagrado do "Manto de Sombras" onde, como outrora, entre e eflúvios sagrados, como Apolo, o autor, na sua interrogação ascendente, diz ao Mundo


                                                                                  João Lobo
                                                             *(Curto enxerto da Apresentação do Romance
                                                                                                                                        Manto de Sombras
                                                                                                                                        Feita do Livro de Braga)
                                                    


    Ao colocar o projecto do lado dos fragilizados, dos humilhados e dos incompreendidos, o autor inscreve-se na linha do classicismo e da tradição literária ocidental, num quase revivalismo de sentido humano e humanitário, levando os protagonistas de "Manto de Sombras" a corporizarem valores de natureza moral, como o sofrimento, a piedade e a misericórdia, de forma que julgávamos banida da literatura pós-moderna.
Partindo do pressuposto que o futuro da humanidade se jogará no campo da solidariedade, Álvaro de Oliveira, à revelia de modismos experimentalistas e passageiros, arranca uma história comovente sobre um drama bem real do nosso tempo (a perda brutal de um ente querido) e coloca em campo um mensageiro da esperança, para conforto de uma vítima castigada pela crueldade e ignorância do mundo contemporâneo.
Desenvolve, pois, o autor, em toada muitas vezes poetizante (o que é sempre de louvar) um corajoso pietismo dostoievskiano, em contraciclo com a desagregação moral da sociedade, a qual lhe merece, em comentários assertivos e impiedosos, reprovações e denúncias dos múltiplos e variados anti-humanistas que triunfam na cidade e, em primeiro lugar, o que é levado a cabo pela superstição castradora e obscurantista.

                                                                 Fernando Pinheiro

                                                                                                                                                                                               


Os Dias Imprecisos


Os Dias Imprecisos são uma colectânea de contos onde o autor, mais que o retrato do mundo e da sociedade contemporânea, em si, nos apresenta estados de espírito que configuram uma mundividência caracterizada pelo absurdo, pelo caso duvidoso e pela consciência de que, como escreve Camões, referindo-se à Índia, «a terra é mãe  de vilões e madrasta de homens honrados».
Adoptando um estilo que permite ao narrador comportar-se do modo que quiser face à narrativa, pois tão depressa se transforma em personagem, como se converte na voz do autor...
... Nestes contos, pode dizer-se, que o autor não abdica do seu direito de intervenção, sendo por vezes
difícil de distinguir qual  a voz que fala, principalmente a quem lida, com o autor com alguma frequência.
Outro aspecto interessante que caracteriza estes contos é a coloquialidade do discurso narrativo que é característica daquele a que se chama digressivo.
                                               
                                                                                                      Armando do Carmo
                                                                                      *presentação do Livro - Fafe
      
Outra característica formal destes 35 contos é a capacidade que o autor descobriu de nos transportar para cenários reais, nos quais mergulhamos com tal intensidade que nos transformamos em personagens das histórias vividas por Álvaro de Oliveira.
Desta forma, o autor convida o leitor a ser cúmplice destes pedaços de vida, a começar pela infância do «licor das amoras», nesse tempo em que "tudo ia acontecendo ao ritmo vagaroso da aventura".

                                                                                               Costa Guimarães 
                                                                                            * Correio do Minho               

Poemas Para Uma Arca Vazia

Há um incómodo evidente sempre que é preciso falar de poesia. Como se tudo o que houvesse para dizer estivesse condenado a ser absolutamente incerto e redundante. A poesia, esta palavra, que é, tantas vezes, uma equívoca designação demasiado genérica, sempre fugiu ao encerramento numa definição única, através de uma continuada e bem sucedida fuga que lhe permitiu salvar-se de ser um lugar-comum. O que precisa de ser dito sobre a poesia, di-lo cada obra. Aí, cada autor estabelece a sua própria arte poética, julga o que é e para que serve a poesia.
... A poesia de Álvaro de Oliveira participa desta aspiração a uma vida simples. Por isso, ordena um mundo devagar, atento ao que mais importa: a água, as mãos, a névoa ou as tâmaras. Uma cretiriosa selecção vocabular - que inclui as árvores, as dunas, a infância, o pão ou o vento - reconduz-nos ao que é essencial. Nesta poesia, o louvor das coisas simples não omite a aspiração a uma vida justa.

                                                                               Eduardo Jorge Madureira Lopes
                                                                               * (enxerto do prefácio do livro
                                                                                                        Poemas Para Uma Arca Vazia)
                                                                                  
                                                                                             

É comum associar-se a poesia à arte musical. Raramente à escultura. Mas é precisamente isso que acontece neste belo, belíssimo livro de poemas de Álvaro de Oliveira! Partindo das esculturas de outro grande criador, Jorge Ulisses, o poeta parte em busca da "palavra essencial", numa poesia burilada letra a letra, tal como Ulisses utiliza o cinzel na constante procura do coração das pedras...
... No fundo, e sem quaisquer pretensões de resumirmos a um livro tão belo como este a uma única e por certo inócua expressão, poderíamos afirmar, sem margem de erro, que este livro nos fala das impressões de uma viagem ao universo da escultura. Aliás, até o insistente e leve ritmo binário dos versos nos fazem lembrar o martelo que, pausadamente, bate no cinzel que «transfigura» o mármore, ritmo que se torna evidente em cada poema que nos entra pela alma adentro, ainda que cada palavra nos obrigue a seduzir a nossa própria imaginação para penetrarmos nesse mundo das profundezas que é a poesia de Álvaro de Oliveira

                                                                   Miguel de Mello
                                                                                        * Jornal   Diário do Minho
... Entretanto, e com um guinar de olhos sobre a primeira página do primeiro texto, eu lia: « Calar-me não creio ser solução para o meu descontentamento...»
Li e reli e... sou capaz de o ler mais uma vez ou duas... até decorar! É um texto bem elaborado, num estilo que prende, sem cansar, algo diferente do rectilíneo sujeito, predicado e complementos, por esta ordem, e foge, portanto, também desse modo, à vulgaridade! Lê-se, com interesse do princípio ao fim, e de um trago!!! Experimente o leitor!!!
Fugindo, também eu, à pecha de estender por aí além... qualquer crítico juízo de valor sobre os 17 capítulos que compõem este bonito Cálice de Sonhos, para terminar, e à minha pequena medida, o mesmo que no fim de uma visita a uma Exposição de Pintura, um crítico notável de arte, respondeu o Pintor - Autor que lhe perguntou: - e, então, que tal, acerca de ...?
-  Gostei!...
Também eu, meu Caro Autor, gostei dos seus quatro personagens; da forma como lhes dá vida, os trata os  veste e os faz mover; sempre com uma tal delicadeza de trato, que me parece refinado amor! E não será? »Melrai... os lábios, duas aves de voar-me o segredo do desejo, nas dunas duma demorada sede»...; ou ainda «... chamar o sol e inventar nos sulcos da memória, os dizeres do tempo». Que tal?
- Gostei!...
               
                                                                  Félix Augusto Ribeiro
                                                        *curto enxerto do prefácio ao livro


Uma das vertentes deste novo livro de Álvaro de Oliveira - Cálice de Sonhos - é a sua profunda interioridade, mesmo quando deixa espelhar-se em cambiantes de revolta e convite à reflexão, porque: "Calar-me não creio ser solução para o meu descontentamento.
Um autor que se emiscui na perversidade da palavra a autonomizar-se, uma prosa poética descontraída na tela do papel, belamente semeada na enxurrada da mistura da vida e do sémen da esperança. O amor por demais evidente, às vezes como denúncia, outras como recordação / saudação, em que o cenário são duas mulheres fundidas numa só, embora o ciúme impere não  raro entre elas, e o autor se mostre, por isso, embaraçadamente feliz.

                                                                          Albino Baptista
                                                                           In" Palavra Dialogada

Entre Silêncios e Flores

Álvaro de Oliveira é um poeta nato que se vem destacando numa geração de poetas e escritores que  surpreendem num percurso de autenticidade artística, de valorização e consciência estética.
A poesia de Álvaro de Oliveira é uma força de interiorismo que ao mesmo tempo revela a capacidade emotiva de sentir o mundo que está ao longe e ao perto - quimeras, sonhos, flores, amor paixão. Uma temática de humanidade e sentimento. Nada se perde nesse impressionismo de espírito e afeição às coisas e aos seres.
Os sonetos são magníficos, verdadeiramente antológicos, a revelarem que a poesia é o destino inevitável - que acontece, espontânea, brado de alma, força e sentimento

Tenho o tempo no peito e devagar
ando como quem vai por sobre o vento
nos andaimes do sol olhando o céu.
....................................................
E sei que sou vadio, mas sou eu!

                                                                                 *    Notícias de Guimarães

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Baladas de Orvalho

   ... Foi, para mim, um privilégio ler este livro, "Baladas  de Orvalho" de Álvaro de Oliveira e, posso dizê-lo, fruir a grata vantagem de  apreciar o seu talento poético, valorizado pela arguência apelativa constante da mensagem. Poemas curtos, incisivos, evidenciando, logo à  partida, uma beleza estética que encanta, a par de uma escrita leve, aromatizada com o sabor das mãos, da terra, da  água. Evocações, apelos e convites, numa permanente  procura dos instantes à visitação da poesia, uma aposta na fecundidade do texto, apuradamente elaborado a revelar uma admirável classe literária.

                                                                                Leonor Bobadela
                                                                                                                                     
                                                                                                                                      * Faro de Vigo

Baladas porque os poemas surgem delicados, harmoniosas, embrulhados em afectos em desvelo, em companheirismo, com  musicalidade nas palavras, nas pausas entrecortadas de silêncios,... «hoje talvez me demore/ vou partir com a aves.
... O Álvaro é isto. Um escritor de corpo inteiro. Um artezão  da palavra. Um poeta e escritor com um código linguístico acessível a todos.

                                                                         Fernando Marques
                                                                    * (Apresentador da obra
                                                                                      Feira do Livro de Viana do Castelo)

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Mãos de Sal

... Não é imparcial o olhar do Álvaro para o fiel da balança que planta na sua poesia. As suas mãos de sal escolheram poiso no mesmo prato, arrastando para o seu lado um ponteiro resoluto que aponta um amanhã sem algemas guiado pelos poetas, um amanhã sorridente, comunitário, em contínua construção. Constata revoltado o parasitismo arrogante dos que só «sabem multiplicar para diminuir». e, ora em tom sereno de pena a afagar uma brisa, ora em tom arrebatador de lança sibilante «a abrir as fendas destas horas árduas», faz alicerces a esse amanhã que já tem berço na sua poesia.
É  de coração ao leme da barca das palavras que ele ostenta à proa do livro esta certeza: «há-de rebentar a cela dos teus dias» - e as veias comprometidas engavinharam-se todas no propósito. Vemos o Álvaro enxertando esperança, uma esperança que não vegete prenhe de dores cercada numa cela que ceive dias desmembrados, insalobros (traz-nos o sal); uma  esperança (aguerrida) sem contornos na liberdade das letras. Ergue-se decidido neste mar de desamparada melancolia com apelos necessários em momentâneas e arrebatadoras irrupções de revolta.

                                                                                José A. Pinto de Matos
                                                                               * pequeno enxerto do Prefácio

A  escrita do Álvaro de Oliveira, prende-me a atenção desde os tempos da página de Literatura & Arte do jornal Correio  do Minho, onde fomos, durante muitos anos, assíduos colaboradores. Os textos assinados por ele são duma admirável beleza, cuidadosamente elaborados, com um discurso poético fluente, e refinadamente trabalhado a testar tratar-se de um grande talento.
Enfim, o recente livro do Álvaro de Oliveira, é de  grande aparição literária, pelos temas focados, que são vividos e actuais, e que nunca é demais dissecar e escalpelizar, e faz-nos crer que  continuará nesta senda de tanto mérito, o que o honrará, e com o que todos, seus amigos e admiradores, temos de  nos congratular.

                                                                                   A. Garibaldi
                                                                                  * Gazeta de Felgueiras

domingo, 6 de novembro de 2011

Mar da Boca

... A personalidade artística de Álvaro de Oliveira há muito que está definida não apenas nos trabalhos que publicou em livro, mas, também, na colaboração dispersa pelos jornais. Quando escreve em prosa, facilmente se adivinha que está ali um verdadeiro poeta, pelos temas, pela fluência, pelo grau de sensibilidade com que acolhe os fenómenos e os acontecimentos que gravitam à sua volta e que, para ele, são sempre razões de uma interpretação humanística.
Pode dizer-se que é dentro deste conceito de humanismo, enriquecido por uma concepção artística natural ( poemas incisivos, digamos, quase meteóricos, mas que nos deixam luz, som, harmonia, e mensagem), que o poeta se define, procurando nos temas que busca ou lhe aparecem, a essência das realidades que são vida, espírito, amor, ansiedade e sacrifício

O pão vem
por sobre as colinas
do suor
breve
muito breve
até à boca.

A poesia de Álvaro de Oliveira traz-nos uma mensagem de amor e inconformismo, ora em frémitos de ideais, ora na  quietude que envolve o futuro na auréola dos sonhos e das «ondas da esperança».

                                                          Comércio de Guimarães
                                                                   Maio de 1985
                                                                                  

sábado, 5 de novembro de 2011

Os Servos da Terra

As primeiras páginas são  a elegia do arado e da sua dimensão no sacrifício de quem trabalha a  terra. Hoje, uma relembrança da história e do sacrifício dessa gente heróica que beijava a terra e a trabalhava com canseiras extraordinárias, suor e lágrimas. Casas já sem tecto, sinais de declínio humano e social. Uma saudade viva repleta de humanidade e amor. Ruas velhas, seres humanos da saudade de Agrodoval, apontam-nos as perspectivas para a leitura de um romance de história e maravilha. De humanidade e esperança. Tarefas ingentes do ruralismo que faz a Pátria e a ama a a quer sempre.
Páginas vibrantes da vida rural com história que não se esgota nunca. Costumes e frustrações. Arado e enxada, símbulos do trabalho imenso.
Acompanhamos a evidencia de personagens na história da vida campestre, no diálogo emocionante. Sacrifício da terra aldeã sem gente nova que a trabalhe. Emigraram e ficaram os velhos. Uns desapareceram. Outros têm o sabor da vida amarga e o fim à vista.
Os Servos Da Terra,  descrição opulenta dos cenários da aldeia com suas figuras de humanidade íntegra. Aí estão as realidades. Álvaro de Oliveira define fenómenos psicológicos com uma naturalidade indiscutível. As figuras recortam-se como realmente são e vivem. Sentimentos, diálogos, formas de estar na vida, preocupações. O ruralismo tem, nesta obra e neste autor, que o vive e exalta. Que o sente e analisa sem intromissões de conceitos literários menos condizentes com a realidade. O ruralismo com as suas figuras, as alegrias e dramas é a verdade que é nossa, psicologicamente inconfundível. Robusta, sincera admirável.
O talento de Álvaro de Oliveira e a sua capacidade  analítica e  psicológica, aí estão em páginas atraentes, ricas de mistério e claridade. Surpreendeu-nos, embora com o reconhecimento do seu enorme talento. Honra a nossa literatura. Neste romance de temas rústicos, Álvaro de Oliveira define um alto conceito literário e humano e também, social da realidade portuguesa que se considera património fundamental como valor da terra que se trabalha e ama, com um ente querido. Sacrifício e amor que valem um epopeia.
Os Servos da Terra é uma obra que prestigia a literatura  e dignifica o seu autor, poeta de grande valor e escritor de concepções humanísticas que sabe e vive com as personagens que vê e com elas se confunde numa demonstração de rica sensibilidade.

                                                                       João de Sousa Machado
                                                                        * Notícias de Guimarães

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Inventar o Olhar - 1989

Ao contrário de tantos cultores afectados pelo desvio desumanização reinante, para quem o discurso poético representa a possibilidade do comprometimento ideológico e consumista apenas, Álvaro  de Oliveira forja uma poética de alianças e através dela se realiza: com a terra, com as coisas, com a vida, o amor e o mundo.
Não que o múltiplo seja nesta poesia o sinal da divisão, da tendência para a dispersão no espaço e no tempo.
Da contigência próxima, esta poesia inscreve-se antes no labor insubstituível da mutação permanente, na perenidade do presente: «o meu próprio instante», lê-se na primeira sequência - «Inventar o Olhar» a que se seguem dois momentos distintos: O Lugar das Harpas e Murmúrios, visivelmente conotados com essa música com que a antiguidade clássica, em nosso nome, cortejou a divindade.
Álvaro de Oliveira tem do fenómeno poético uma visão evocativa. Ou como um dia escreveu Maurice Blanchot: a lembrança é a liberdade do passado. Nesta linha de conta cada poema é uma memória profundamente localizada no ideário do poeta, por ele religiosamente guardada no espaço vivencial em que se move
Ele sabe que a parte é o tudo, ao contrário dos que pensam que o todo é a soma das partes, e a sua escrita é, acima de tudo, criador, ele escreve: «quando os sulcos de si falam».
à parte o privilégio de conhecer a poesia deste homem em cuja poética se cumpre exemplarmente a intersecção do absoluto com o relativo, eu diria que «Inventar o Olhar» é, em última análise, um pacto com a terra. Essa terra quotidianamente habitada, e do coração tão próxima, que começa a ser tempo de, para ela, o homem «Inventar outro nome».

                                                                                                      Vergílio Alberto Vieira
                                                                                                      * jornal Correio do Minho

Algas da Sede

 Poemas de sugestão e certo ritmo, a lembrar-nos que uma obra de arte pode ser, antes de mais, «sugerir» e musicar: «L'art c'est dela musique», bem ao gosto de Verlaine e seus pares simbolistas.
Seja como for, estas pequenas mensagens, que tenho diante dos olhos, estão bem marcadas, também, da humanização no realismo social, tão aliciantes em nossos dias, pintalgadas de um sensorialismo vibrátil e intimista um pouco mais vincado em Algas da Sede com volátil, púdico e  discreto sensualismo de coração adolescente, a ferver!
Ao falar de alma jovem, não me refiro a anos, pois nem sei o escalão etário do Álvaro de Oliveira, mas a uma vitalidade  que pode muito bem despoletar-se em idades maduras como as «Folhas Caídas», de Garrett, que foram a surpresa das surpresas em sua vida, como revelação interior empolgada, quando já pouco se esperaria de líricas crepitantes, nele! Não trago este polígrafo por acaso, pois logo nele pensei, ao ler estes poemas curtos a encher de  vida as páginas deste opúsculo. E que viço!
Como que viciado por tantos anos de ensino do Português, desde 1953 a 1977, nomeadamente da literatura, em moldes tradicionais de conteúdo e forma, onde se procurava descobrir e ensinar adentro de parâmetros de harmonia geométrica de estesia literária, pois com certa dificuldade poderei apresentar-me com as devidas credenciais de um crítico amestrado e convincente.
Daí, serem estas minhas palavras mais um estímulo, e uma atitude de carinho   por quem se lança pelas vias da criatividade, sempre de louvar e apreciar. E não farei nenhum favor ao autor em lhe dizer que já produziu  duas obras de arte a ter em conta.

                                                                                                
                                                              João Gomes Gonçalves