quinta-feira, 18 de junho de 2015

Debruçando-nos sobre as escolhas temáticas que percorrem toda a obra de Álvaro de Oliveira encontramos a infância, o trabalho, a mulher, as preocupações de carácter social, expressas sob a égide do compromisso e da participação cívica.
Sobre a infância vejamos: “ O dia dos meus anos” onde a voz que fala no poema leva o leitor até ao palco de um tempo mítico situado na infância, o tempo dos verdes anos onde o sujeito lírico já não está, mas recorda debaixo de um manto de nostalgia.
Dentro da temática do trabalho, surge, a par do trabalho nas fábricas, a faina do mar, não fossem os portugueses um povo banhado de ondas de maresia e sal. O envolvimento social é notório, mas não se pense que este se perder nas redes do engagement, (termo que traduz o empenhamento ideológico/político de um escritor ou intelectual), denota antes uma preocupação cívica acentuada, mas livre de senhores ou profetas, para se embrenhar no humanismo de valores consagrados universalmente. Vejamos os poemas: “ As fábricas fechadas” logo seguido (e não por acaso) por “Duras fragas”, que nos colocam diante de problemas sociais como o desemprego e a emigração, tão ou mais agudos agora que noutros tempos de reconhecida dificuldade.
Diz o Álvaro pela voz do sujeito lírico: Falo-te por dentro de um poema/ aberto às portas da cidade/onde a voz é sonho e memória/ e de um poeta que finge não viver/o drama das palavras sem história.
O poeta parece querer dar-nos testemunho de um estado de espírito desencantado, revertendo o fazer poético para um espaço apartado da realidade porque tudo é “sonho e memória”, mas esta ideia é classificada por ele, como um drama, o que o coloca em oposição a Alberto Caeiro, heterónimo sensacionista de Pessoa, para o qual as sensações suplantam toda e qualquer outra manifestação exterior do mundo. Escreve Caeiro:
Cada cousa é o que é, / E é difícil explicar a alguém quanto isso me alegra, / E quanto isso me basta.

Lídia Borges