*Efetivamente, parece admitir-se que existe um
enriquecimento das manifestações artísticas sempre que se estabelecem
aproximações e diálogos entre as diversas artes, fazendo-as coincidir no apelo
ao sensorial, na expressão de sentimentos, ainda que mantendo a divergência nos
suportes artísticos utilizados e nas matérias a trabalhar – a palavra, a
pintura, o barro, a música... No caso da poesia e da pintura, digamos que a
distância entre elas não será tão grande como à vista desarmada possa parecer,
dado que ambas são artes da imagem e, portanto, artes irmãs por excelência. O
cotejo entre literatura e pintura não é novo. Proposições entre estas duas
artes são esboçadas desde a Antiguidade. Observe-se por exemplo o simile -Ut pictur e poesis( como a pintura é a
poesia),expressão latina usada por Horácio na sua Arte Poética, (c 20 a.C.).Também Plutarco menciona esta afinidade
ao atribuir ao poeta Simónides de Ceos o dito, segundo o qual - A pintura é poesia silenciosa, a poesia é pintura que fala.
Mas
interessa-nos por agora salvaguardar as impressões do visível e do dizível que
a obra que temos em mãos pode imprimir no espírito do leitor/observador.
Lídia Borges
*Pequeno extracto do prefácio ao livro INQUIETAÇÃO NO OLHAR