Se ontem disse que os meus livros eram os meus pecados de quase nada; hoje sinto que os meus livros são os meus pedaços de quase tudo.
Álvaro de Oliveira
"Só uma alma poética como a de Álvaro de Oliveira poderá dizer que «Só o silêncio, noite fora, me permite trabalhar sem incorrer naquela distracção que às vezes me perturba o raciocínio», preferindo «atravessar a noite à espera de qualquer coisa… Talvez uma frase, um verso, um poema com que possa expressar uma ideia de luz amarela que ilumina esta mesa, a vontade sem vontade, um rio seco, uma árvore sem ramos, sem folhas…». Felizmente que, para nós, Álvaro de Oliveira é daqueles escritores que não se cala, «escrevo até ao último escoar dos dias.» Mais que não seja, em homenagem aos homens e mulheres que morreram pela liberdade de expressão e pensamento, repetidamente presentes em conjunturas similares: «Portanto, fechados nesta redoma e tangidos por leis laborais que nos remetem para a penúria do recibo verde e outras precariedades, sem poder sequer dar um pio, depressa nos encontramos manietados sobre nós próprios, gerindo conflitos e desconcertos e, espantados, a atirar um olhar patético para famigerados prumos contabilísticos e demais indicadores que dão nota pesada sobre a inacreditável soma de 3 milhões de portugueses que se viram forçados, como noutro tempo assim aconteceu, a abandonar o seu país e procurar, lá fora, um novo rumo para dar à vida».
Falar de «Murmúrio Íntimo», o
que nos levará ao atrevimento de o conjugar no plural, tendo em conta a
harmonia do todo na partilha do olhar poético, observador – sim, um bom
escritor tem que ser, forçosamente, um bom observador –, aquele olhar poético
«ligado às origens e às causas, atravessar as sombras que passam rente aos
gestos que nos falam da intimidade dos frutos» e dos outros, aqueles em que
muitas vezes «os guardas do poder» espancam violentamente os trabalhadores e os
melhores filhos do povo do nosso país, levando-o e/ou levando-nos à revolta,
com aquele «olhar íntimo» dos rostos que ainda nos acompanham, quase como um
«menino perdido na noite, embrulhado no calor das palavras», esquecido de si,
deixando-se seduzir pelo silêncio a ouvir uma melodia de infância."
Porfírio da Silva
(Pequeno enxerto da apresentação do livro)
(Pequeno enxerto da apresentação do livro)
Parabéns Álvaro, não apenas por este trabalho que merece, indubitavelmente, as horas sem dormir de noites iluminadas, mas também por toda a sua obra, estruturada sobre padrões de sensibilidade e consciência social notáveis.
ResponderEliminarLídia